Recentemente a Netflix estreou um documentário chamado Period. End of Sentence (Absorvendo o Tabu, traduzido ao português), o qual não só concorreu ao Oscar como o ganhou na categoria de melhor documentário curta-metragem.
O documentário aborda como é encarada a menstruação em uma zona rural da Índia, além de acompanhar, um pequeno grupo de empreendedoras indianas que decidiram produzir absorventes biodegradáveis a um preço justo, conquistar sua independência financeira e a educar as mulheres e meninas sobre o que é o ciclo menstrual, tema que é tratado e visto de forma vergonhosa e desconhecida por muitas mulheres da região.
Em Harpur, cidade retratada, a primeira menstruação significa que as meninas devem interromper os seus estudos, além de muitas serem consideradas impuras ou amaldiçoadas quando estão menstruadas.
Elas utilizam tecidos sujos, folhas e até cinzas para impedir que o sangramento se alastre, tamanha falta de higiene que coloca a saúde dessas mulheres em risco de morte.
Na Índia, segundo o documentário, apenas 10% da população feminina usa absorvente descartável, de modo que o país é considerado uns dos mais negligentes com a saúde da mulher.
Lembrando que a população feminina na Índia equivale a mais de 600 milhões de pessoas — ou três vezes a população total do Brasil.
O documentário abre portas para diversos tipos de reflexões, onde eu gostaria de abordar aqui (e o qual melhor me cabe comentar) os aspectos mercadológicos e o que podemos tirar de lição desse grupo de mulheres empreendedoras, se destacando em um dos mercados mais difíceis na Índia.
Vocês realmente conhecem as dores e as aflições do seu consumidor? Qual problema que seu produto ou serviço resolve? As pessoas enxergam valor naquilo que você oferece?
Não me diga que o fato de você vender chocolates, você não resolve problemas. Se eu busco presentear alguém, o problema que eu enfrento é encontrar um chocolate que venha em uma embalagem apresentável e que seja saboroso.
Se eu estou com vontade de comer algum doce durante o dia, o problema que eu enfrento é encontrar um produto de qualidade e de baixo custo, abro mão de uma embalagem mais elaborada e de toda gurmetização. Se eu for diabético ou alérgico a lactose? Vegano?
Haverão quantas empresas que atendem essas necessidades?
Outra questão que eu vejo, principalmente no Brasil, é no mercado de vinhos. Muitas pessoas gostam de vinhos, consomem vinhos com frequência, mas quantas realmente entendem sobre vinhos? sobre os tipos? sobre sua harmonização com os alimentos? Acredito que um grupo seleto apenas, mas acredito também, que uma boa parte (para não dizer todo o restante) gostaria de aprender mais sobre.
Em contrapartida, quanta empresas no ramo estão engajadas a educar o seu consumidor? Promoverem degustações, conteúdos informativos? Isso seria um enorme diferencial, não só no mercado de vinhos, como em outros mercados também.
Educar gera credibilidade e confiabilidade, te aproxima do seu consumidor e não o só fideliza, mas o também o torna um fã, um dissipador da sua mensagem e todos nós sabemos que não existe marketing melhor do que o buzz marketing, o famoso marketing boca a boca.
Vejo muito na cidade de São Paulo, gestores de marketing, que trabalham nos jardins, que só frequentam os bairros da Faria Lima, Paulista, Itaim (bairros nobres da cidade), se cercam de um grupo seleto de pessoas que compartilham o mesmo estilo de vida e que caem na ilusão que São Paulo é Nova Iorque, pior de tudo, que levam isso para dentro das empresas e direcionam a suas estratégias de marketing a um público específico e esquecem totalmente um outro, que muitas vezes representam um maior potencial e passam despercebidos.
Precisamos ir para campo, fazer entrevistas quantitativas e qualitativas, conhecer o nosso consumidor, coletar dados e os transformar em informações estratégicas.
Conheça as dores do seu clientes, quebre tabus! Compartilhe seu conhecimento com eles, resolva problemas e a venda será uma consequência um tanto quanto inevitável.
É tempo de inovar!
Um abraço,
Matheus de Aguiar
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