No dia 28 de Dezembro de 2018, a Netflix estreou em seu catálogo de filmes a nova longa metragem “Black Mirror – Bandersnatch”, nos apresentando uma nova forma de assistir televisão.
Nesta última década, com a expansão dos serviços de Streaming, o entretenimento continua cada vez mais se desvirtuando da forma tradicional que estávamos acostumados a consumir o conteúdo, com planos de assinaturas e produção independente de conteúdo. Entretanto, não está sendo apenas a forma que estamos consumindo o entretenimento que está mudando.
Black Mirror é uma série de ficção científica, primeiramente produzida por um canal de televisão britânico, o qual a Netflix comprou os direitos de reprodução, após as duas primeiras temporadas serem bem recebidas pelos telespectadores. A série basicamente retrata em seus episódios, temas relacionados a forma que as pessoas interagem com a tecnologia e a forma de como elas podem se relacionar com a mesma no futuro.
Voltando ao lançamento do filme “Black Mirror – Bandersnatch”, podemos descrevê-lo como um longa metragem com diferente começos, meios e fins, onde todas essas permutações são controladas pelo controle da sua televisão, o que a Netflix se refere como “TV – Interativa”.
Com mais de cinco horas de cenas, a inovação da Netflix em “Black Mirror - Bandersnatch” pode parece ser uma jogada inteligente e revolucionária, entretanto, a empresa considera essa interatividade entre as pessoas e a televisão, um “próximo passo” até um tanto lógico, de modo que, investiu milhões em customização de algoritmos para as preferências do telespectador.
Chega ser até incorreto usar o termo “telespectador” visto que, etimologicamente “telespectador” é quem apenas assiste.
Novamente, a Netflix está mudando a forma que consumismo o conteúdo pela televisão, desmembrando a ideia que sempre possuímos sobre a experiência de assistir TV. Um exemplo dessa mudança é o fato de não precisarmos mais esperar o lançamento de um novo episódio, semanalmente, de uma série que acompanhamos, pois a Netflix libera todos os episódios de uma só vez e deixa ao critério de seus assinantes a forma que querem consumir os episódios. E agora, possivelmente, podemos não assistir o mesmo final de um mesmo filme ou série.
A ideia principal da televisão sempre foi ser “uma força para unir o mundo” e isto foi possível, por um longo tempo, tanto que em 1980 e 1990, séries como “M*A*S*H" e “Cheers” alcançaram números estrondosos de audiência, em seus episódios finais (“M*A*S*H” com 106 milhões de telespectadores) e “Cheers” ( 106 milhões de telespectadores).
Nos dias de hoje, provavelmente, o mais próximo disso que um programa conseguiu, foi a série “Game of Thrones” da HBO, com aproximadamente 16 milhões de telespectadores. Embora, houve um buzz altíssimo causado nas redes sociais e um impactos social enorme, o qual provaram que toda a população estava sintonizada no que estava acontecendo e tinha um certo conhecimento sobre o assunto.
Todavia, a Netflix “reviu” a ideia sobre a televisão como uma força que une as pessoas, pois esta interatividade e customização, pode tender a causar “o fim das conversas paralelas de corredores”, o que é muito comum, nos dias de hoje em um último episódio de uma determinada série ou filme. É possível que no futuro cada pessoa assista um final diferente baseado em suas preferências.
Com esses algoritmos cada vez mais personalizados, baseado em nossos hábitos de consumo de informação, é possível que no futuro não possamos assistir nem os mesmos lançamentos de filmes e séries no mesmo dia.
No caso dessa nova longa metragem “Black Mirror”, levando em consideração essa interatividade entre os telespectadores e o filme, uma importante questão deve ser levantada; as pessoas realmente querem este nível de customização?
O longa foi lançado em uma época onde não estava havendo outras grandes estreias e este novo formato de assistir televisão, por ser algo inovador, pode até ser que se torne um sucesso, entretanto, e se a Netflix expandir esta ideia e levar essa interatividade para outros filmes e séries?
É interessante a ideia de sermos apresentados por programas desenvolvidos para agradar nossos gostos, no entanto, a possibilidade de compartilhar as mesmas experiências com outras pessoas, seja algo positivo e saudável, isso sem mencionar o fato de poder ser surpreendido pelas histórias, indo além de ideias e conceitos desenvolvidos para nos agradar.
É possível até que a palavra spoiler (americanizada e adotada pelos brasileiros), daqui alguns anos deixe de existir e talvez seja possível também que isso faça falta, da interação em tempo real com as pessoas nas redes sociais e fora delas.
Talvez o longa Black Mirror – Bandersnatch seja apenas mais uma “novidade” e não venha substituir a forma habitual que consumismo os conteúdos pela televisão. Toda inovação é importante e excitante e haverá espaço para estes conteúdos customizados, porém, outras horas, compartilhar a experiência de um filme ou série com outras pessoas será sempre algo insubstituível.
Um abraço,
Matheus de Aguiar
Comments